O que acontece em Montessori

garcia-marquezGabriel Garcia Márquez, Nobel de Literatura e autor de Cem Anos de Solidão e Amor nos Tempos do Cólera, diz em sua autobiografia, Viver para Contar: ““Não creio que haja um método melhor que o montessoriano para sensibilizar as crianças sobre as belezas do mundo e para despertar sua curiosidade para os segredos da vida””.

Além de Márquez, o método Montessori conta com outros ex-alunos interessantes: Larry Page e Sergey Brin, fundadores do Google, são seus representantes mais conhecidos. No entanto, figuram entre outros os criadores da Amazon e da Wikipedia. Recentemente, um amigo me disse: Puxa, a Internet não foi inventada por um montessoriano, mas tudo o que usamos nela foi.

De fato, à exceção do Facebook, os grandes serviços virtuais de hoje são fruto de montessorianos: Google, Google Maps, Gmail, YouTube, Vimeo, Wikipedia, Amazon. O iPod, o iPad e o iPhone não são, mas seu criador, Steve Jobs, ajudou pessoalmente na criação de aplicativos montessorianos para os três aparelhos, apoiando o casal que teve a ideia de criá-los e estimulando-os a ir em frente. Os aplicativos montessorianos, logo em seguida, figuravam entre os melhores da App Store.

Sigmund Freud teria dito a Montessori que “Se todas as crianças fossem às suas escolas, os divãs dos psicanalistas estariam vazios”, e Anna Freud, filha doIMG_5903 psicanalista, tornou-se professora montessoriana. Mahatma Gandhi apoiava Montessori e a irmã do atual Dalai Lama, Jetsun Pema, dirige uma escola montessoriana.

Pessoas menos distantes de nós, como Severn Cullis-Suzuky, a menina de 13 anos que surpreendeu a todos na ECO 92 e que hoje figura em um dos vídeos mais vistos do YouTube, também estudou em uma escola Montessori, e começou com suas amigas, aos nove anos de idade, uma organização para a proteção do meio ambiente.

Ainda mais perto de nós, Ivan Lavander, meu amigo e ex-aluno da Prima-Escola Montessori de São Paulo, descobriu, aos dezessete anos de idade, antes de iniciar a graduação, um antibiótico nos ovos da aranha armadeira. Isto lhe rendeu quatro primeiras colocações na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, realizada na Escoa Politécnica da USP, em março de 2009. Ivan, em seguida, recebeu a segunda colocação na Feira Internacional de Ciências e Tecnologia (Intel Isef), que aconteceu em Nevada, nos Estados Unidos, em 2009 – Foi a premiação mais alta concedida a um estudante brasileiro no evento americano.

Ainda assim, mesmo com todas essas figuras impressionantes e tantos feitos e apoiadores relacionados ao método, Maria Montessori insistia que não era ela que fazia as coisas. Seu método não tornava as crianças melhores. Até hoje, não torna. Montessori, ao contrário do que se pensa, não cria gênios. Montessori os deixa agir.

A doutora dizia com frequência: “aponto para as crianças, e as pessoas olham para o meu dedo”. Tudo o que fazemos em Montessori é remover obstáculos e, em um ambiente preparado com adultos preparados, permitir que as crianças se desenvolvam o máximo possível na direção em que sua inteligência as conduzir. Brin, Márquez, Suzuki e Ivan não chegaram onde chegaram porque Montessori os fez geniais. O que aconteceu foi que eles começaram a agir e ninguém os impediu.

ConviteNas escolas montessorianas não existem notas de 0 a 10. E isso tem um motivo bem claro: dar uma nota numérica é estabelecer um mínimo e estabelecer um máximo, de forma um tanto quanto arbitrária. Por mais que o mínimo precise ser estabelecido para se obedecer a parâmetros legais, o máximo não o necessita. Quando se tem uma nota 10, o máximo que se pode atingir é aquilo que o professor espera – não é possível surpreendê-lo. Em Montessori, precisa ser.

O que acontece em Montessori é que damos toda a pista de decolagem para a criança: tiramos tudo de seu caminho, lhe damos as orientações necessárias com exatidão e objetividade, colocamos limites claros, precisos, exatamente onde eles precisam existir e prevenimos todo tipo de acidente e gastos supérfluos de combustível. Aí, em seguida, esperamos a criança decolar.

Acontece o inevitável: as crianças decolam. E também inevitavelmente todas são felizes. Algumas crianças são um 14-Bis, outras são um Boing 747, outras ainda são aviões-caça, e há aquelas que são aviões comuns. Nós não comparamos um Boing com um caça, eles não são o mesmo avião, é impossível dizer que um seja melhor que o outro: eles são diferentes. Assim, todas as crianças podem ser felizes atingindo o seu máximo, e não um máximo imposto pelo controlador de vôo, que por sua vez não ajuda a guiar o avião, somente o orienta pelo melhor caminho.

Há dias em que as crianças não querem voar muito alto, e alguns em que desejam testar-se ao máximo. Essa variedade é possível, é observada e é respeitada. Acima de tudo, a criança é compreendida. É isto o que acontece em Montessori.

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Escola Montessoriana, Reflexões

9 comentários

  1. Gabriel, começar o dia com uma leitura como o seu texto é certeza de ter um dia cheio de inspiração! Sempre leio, penso em comentar e acabo deixando “pra voltar mais tarde”, mas esse tive que me manifestar na hora!
    Parabéns pela sensibilidade ao colocar os exemplos e fazer nossas mentes voarem!
    Um abraço,
    Cíntia

  2. Adorei os exemplos Gabriel, faço minhas as palavras de Ariane acima, foi exatamente o que pensei ao ler. Tudo aqui tem me inspirado para o TCC que ainda irá demorar mas já penso com certeza em Montessori. Parabéns por tudo aqui.

  3. Oi, Gabriel! Acabo de descobrir seu blog e adorei essa descoberta! Seus textos são muito interessantes. Obrigada pela generosidade em publicá-los!

  4. Simplesmente Fantástico!!! mais uma vez vc me deixa muito feliz em ter a honra de ser sua amiga.parabéns.abraços fraternos Mari Silveira

  5. Gabriel, tenho a cada dia mais fascinado mais e mais por Montessori, e agradeço a você!

    É inspirador ler seus textos. Você nos aproxima de Maria Montessori. Obrigada por se dedicar tanto e nos apresentar de forma tão bela seus conhecimentos sobre este assunto!

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