O 5º Encontro de Educadores Montessorianos

Quando eu tinha uns dez anos, mais ou menos, escutava falar do “encontro da OMB”. A diretora da escola não estava porque fora ao encontro da OMB, ou eu via cartazes na escola anunciando o próximo encontro da OMB. Eu sabia o que significava OMB: era a Organização Montessori do Brasil. Como nossa escola, a Prima, era associada à UNESCO, na minha cabeça de criança a OMB era também uma parte da ONU. Fazia todo o sentido do mundo, e o encontro da OMB era o que podia haver de mais nobre.

Eu aprendi, depois, que embora nossa escola seja mesmo associada à UNESCO, e isso é incrível, a OMB não é parte da ONU. Foi um pouco decepcionante, mas a mágica em volta do nome e do logo da OMB continuaram existindo e eu continuei achando que se tratava de um Olimpo inatingível e admirável. Depois ainda, eu comecei a trabalhar com Montessori, e assim fui conhecendo, um por um, os membros da OMB – os membros do Olimpo. E fui percebendo que, embora as pessoas sejam “atingíveis”, mantém-se inatingível a quantidade de conhecimento que são capazes de articular pelo bem das crianças e da educação.

Então, em 2013, surgiu a oportunidade: o 5º (ou o 34º, depende de como se conta) Encontro de Educadores Montessorianos, organizado pela OMB. Com o apio da Prima-Escola Montessori de São Paulo, e da Montessorriso, fui para Campo Grande, no Matro Grosso do Sul, para ter uma das melhores experiências da minha vida.

Logo no início do primeiro dia, tive o prazer de conhecer Sônia Braga, tesoureira da OMB, diretora da Meimei Escola e tradutora de uma série de livros de Maria Montessori, e logo depois Maria Sheila Saldanha, diretora administrativa da OMB e diretora no Colégio Maria Montessori. Quando fui buscar um local para sentar e ouvir as primeiras palestras, tive a terceira alegria: conhecer pessoalmente Márcia Righetti, pesquisadora da Comissão Científica da OMB e diretora da Aldeia Montessori. Ufa! Era muito para uma manhã.

As palestras do primeiro dia foram dadas por Elena Young, diretora do Huelquén, exemplo de escola Montessori no Chile. A professora nos falou sobre o preparo do professor montessoriano e da necessidade de se refazer continuamente o exame de si mesmo, para garantir que estamos no processo de nos desfazer da ira e do orgulho e de nos revestir de caridade, sabendo adotar uma atitude humilde diante da criança. E tudo isso sem abrir mão de um considerável saber técnico e teórico acerca do desenvolvimento da criança e da utilização dos materiais montessorianos. A palestra foi incrível e, apesar das dificuldades com o português espanholado de Elena Young, cada palavra valeu a pena.

Ainda no primeiro dia, tivemos a palestra de Edite Barbosa, brasileira que depois de dirigir a escola Menino Jesus, em Florianópolis, e trabalhar no Huelquén com Elena Young, abriu com colegas plataforma multidimensional Fundação Punto Zero, no Chile. Edite nos falou sobre as pesquisas de Steve Huges, PdD americano que se dedica a pesquisar as bases neurológicas do desenvolvimento da criança e as coincidências entre o método Montessori e as descobertas mais recentes da neurociência. O ponto alto da palestra foi a explicação sobre como Montessori ajuda no desenvolvimento das funções executivas do córtex pré-frontal. Em uma síntese brilhante de Steve trazida para nós por Edite, “crianças montessorianas são boas em fazer coisas”. E é isso que torna aqueles que estudaram em Montessori excelentes em mudar o mundo: eles planejam, são atentos e, flexíveis e bons em resolver problemas. Confesso que durante a palestra de Edite metade de mim pensava na teoria exposta e metade de mim executava um autoexame, para checar se aquilo que a professora dizia que acontecia com crianças montessorianas acontecera comigo.

Tive o imenso prazer de conversar com Elena e Edite depois, e conhecer um pouco mais destas duas mentes brilhantes reforçou em meu coração algo que eu já sabia: é necessário não poupar esforços na divulgação de Montessori para todas as crianças. Todas as crianças precisam ter acesso às maravilhas que podem ser proporcionadas por Montessori, nas esferas neurológicas, sociais, emocionais e psicológicas – além, é claro, das indiscutíveis vantagens acadêmicas.

O primeiro dia terminou com danças circulares organizadas por Edite Barbosa. A professora nos trouxe para mais perto da natureza humana por meio de formas da dança circular, que é um costume ancestral e que permeia todos os povos, sob diversas formas – desde cirandas juninas até a dança da chuva e tantos outros rituais mais e menos comuns. Foi uma experiência momentaneamente forte e posteriormente importante para refletirmos sobre as várias dimensões di ser humano e as formas por meio das quais as várias civilizações compreenderam o homem.

No segundo dia de aprendizados tivemos uma mesa sobre o Ambiente Preparado, contando com Elena Young, Sônia Braga e Talita de Almeida – a última é presidente da Associação Brasileira de Educação Montessoriana e a maior conhecedora de materiais montessorianos no Brasil. A mesa foi espetacular, e pudemos aprender sobre a importância psicológica e emocional de um ambiente que respeite a natureza da criança, assim como sobre a interconexão existente entre os materiais de desenvolvimento montessorianos e a relevância de conhecê-los todos para se saber utilizar um pensando naquilo que lhe antecedeu e no que lhe sucederá, de maneira a fazer da sala um todo coerente para a compreensão da criança.

A segunda fala do dia foi de Dayse Canano, diretora da Escola Petra, que nos falou sobre a Conquista da Leitura e da Escrita como Processo, com um foco especial acerca do trabalho desenvolvido na escola Petra. O relato foi muito interessante e nos permitiu perceber a relação do materiais com a criança e compreender porque os materiais montessorianos são materiais de desenvolvimento, e não materiais didáticos: um material de escrita, por exemplo, não ensina só a escrever, ele interfere na psique da criança e em sua compreensão da realidade, podendo inclusive viabilizar a absorção de experiências do mundo real de uma forma mais organizada e tranquila.

Finalizamos o último dia de encontro com uma segunda palestra de Edite Barbosa, sobre Fazer Caminhos, uma reflexão filosófica sobre a obra de Montessori e a natureza do professor montessoriano. Citando Edimara de Lima – diretora pedagógica da Prima Escola e segundo Edite Barbosa, sua mestra -, a palestrante nos disse: “Perguntas abrem caminhos, respostas fecham caminhos”. E a esta afirmação seguiu-se uma série de questões muito pessoais sobre o trabalho do educador montessoriano. A última pergunta foi: “Qual o sonho de Montessori?”, ao que respondemos coletivamente que era um mundo melhor, um mundo em paz. Edite concordou com nossa resposta e disse que só vale a pena persistirmos em nossa profissão se sonharmos o mesmo sonho. Em seguida, realizamos mais uma dança circular, e estava terminado o trigésimo quarto – ou o quinto – encontro de educadores montessorianos da Organização Montessori do Brasil.

No próximo, eu espero encontrar você!

Programe-se: nos veremos de novo, se tudo correr bem, entre os dias 14 e 17 de Novembro, em Recife. Mais informações deverão ser liberadas pela OMB em breve.

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5 comentários

  1. Gabriel, você não imagina como fiquei feliz em poder abraçá-lo pessoalmente. Você é exemplo da geração que dará continuidade aos estudos sobre Montessori e sua grandiosa obra, que coopera e cooperará para a implantação da paz nos corações das crianças, que auxiliará no desenvolvimento de futuros adultos que “farão” a diferença. parabéns por seu trabalho no Lar Montessori. Sonia Maria Braga; RJ

    1. Sônia, se você ficou feliz imagine eu. Depois de ver seu nome em um tanto de livros e sempre associado a algo positivo online e nas bocas de colegas, poder encontrá-la foi um prazer imenso. Espero poder fazer parte de uma geração que leve a diante o trabalho que você e os outro membros do atual Olimpo montessoriano no Brasil vêm realizando. Muito obrigado pela sua visita e pela expressão da sua alegria!! Grande abraço!

  2. Amigois virtuais preenchem nossas horas de face , mas AMIGOS que tomam forma preenchem espaços em nossas vidas … Foi muito bom conhecer você , traz a certeza de que em nosso país há jovens seguidores do sonho de Montessori , e isso , por si só já é maravilhoso ! Obrigada , Gabriel , por nos renovar com sua energia ! Um abraço carinhoso !
    Até Recife , ou quem sabe … até qualquer dia !

    1. Márcia, poder ser amigo de gente montessoriana tão sábia e conhecedora da realidade do método é precioso, precioso!
      Vamos levar Montessori a diante, com o carinho que vocês têm dispensado a esta jóia da humanidade!
      Obrigado pelos seus conselhos e dicas, eu os guardo com carinho.
      Até breve, e um abraço!
      Gabriel

  3. Gabriel, desde que uma amiga me incluiu no grupo Montessori para mamães eu fiquei tão maravilhada com a grandiosidade desta obra (como mãe e também como psicóloga e professora), que cheguei a ficar triste pelo tempo em que passei sem saber de tamanha maravilha. Tenho lido, pesquisado e incluído em minhas aulas os textos que você escreve, assim como os livros que consegui achar. Terminei de ler “A criança” chorando… Meus alunos do curso de Psicologia, após eu falar com tanto entusiasmo, me perguntam como é que nunca ninguém havia falado nisto para eles até então… Enfim, obrigada por seus inspiradores textos… Os aguardo sempre com muito entusiasmo. E obrigada por apresentar a mim hoje Steve Hughes… Por uma dessas incríveis coincidências da vida, comecei este mês uma especialização em neuropsicologia… E você acaba de me dar um projeto de pesquisa e de vida para os próximos anos! Obrigada!

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