Não existe uma resposta para a pergunta.
É distante demais, porque a vida começa dentro da criança, a cada instante. A vida jorra da criança o tempo todo. Como explicar o mar para a nascente borbulhante de um riacho?
Quando recebo esta pergunta em cursos e palestras, sempre começo dizendo: “Compre um peixe”.
Um peixinho de aquário, por melhor cuidado que seja, morre rápido. E nos dá a oportunidade de ver um corpo sem movimento, a chance de ver um fim, e abre espaço para os rituais de respeito e memória que a morte pede. Uma pequena cova, ou uma pequena pira. Uma oração, ou um poema. Uma cruz, ou uma pedra. E a chance de descobrir que com a morte, alguma coisa acaba.
Em seguida, sugiro uma composteira. Na composteira, colocamos o que foi vivo, mas já morreu: cascas de frutas e ovos, restos de verduras, a vida que já foi atravessada. E a composteira nos oferece o tempo da morte. A morte, como a vida, não dura para sempre. A morte acaba.
Quando o tempo da morte termina, na compostagem, pegamos o que a morte nos dá e entregamos para as flores e a horta. Da morte surge a vida.
Lá, onde enterramos o peixe, podemos também plantar uma semente. E da morte surge a vida.
Explicar o que não se viveu é sempre muito difícil. Sobretudo quando a tristeza acompanha a palavra tão de perto. Mais ainda quando se trata de um adeus humano, próximo, e cheio de saudades. Por isso um peixe, por isso a compostagem.
Podemos aprender, com o tempo da vida-morte-vida [1], que tudo é ritmo, tudo vem, vai, e volta. De algum jeito, em algum lugar. A vida é gentil, a morte também.
Hoje, Dia de Finados, desejo o silêncio amoroso a todos que lembram os seus, e que as crianças possam aprender sobre a vida-morte-vida com o amor que cada uma dessas fases evoca, e com a paciência que cada uma delas ensina e exige de nossos corações.
Um abraço a todos.
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1 – O termo vida-morte-vida é de Clarissa Pinkola Estés, em seu livro Mulheres que Correm com os Lobos. Recomendo a leitura.
Amei! Uma excelente forma de expressão da morte ! Muito obrigada!
Que lindas suas palavras Gabriel! Obrigada por ajudar aumentar meu cardápio de opções com minha criança. E outras que eu possa vir ajudar dentro dessa temática tão significativa quão difícil de abordar.