O recém-nascido é, para Montessori, como uma nebulosa: nós não conseguimos compreender completamente quanto pode vir dali, mas sabemos que é um período de imenso potencial. Assim como a nebulosa cria as estrelas por mecanismos e leis que não compreendemos completamente, a criança cria a humanidade, por longos e repetidos esforços. Susan Stephenson é uma das montessorianas que melhor escrevem sobre as crianças muito pequenas, e com permissão da plataforma que ela mantém, compartilhamos este pequeno texto maravilhoso sobre os primeiros tempos da vida da criança.
Texto de Susan Mayclin Stephenson, compartilhado com permissão da The Joyful Child Montessori Company.
Nós sabemos muito pouco sobre o que um bebê realmente vive durante os nove meses no útero. O que ele percebe, sente, pensa, entende. Mas nós sabemos que ele responde a vozes, a sons e a música. Então todos os dias devemos dar a ele o melhor que pudermos durante algum tempo, falando com ele baixinho, cantando e tocando belas músicas.
Estudiosos de aquisição de linguagem nos dizem que a base para o aprendizado da língua materna começa no útero. Estudos sobre as vidas de grandes músicos geralmente nos dizem que eles foram expostos a excelente música ainda durante a gestação.
Pais que cantam para os pequenos bem antes de seu nascimento percebem que depois do nascimento aquelas mesmas músicas tranquilizam muito os bebês.
A pele, o primeiro e mais importante órgão dos sentidos, está completa depois de sete ou oito semanas de gestação. O olfato está pronto para funcionar no segundo mês de gestação. O paladar está ativo no terceiro mês. A orelha completa seu desenvolvimento estrutural do segundo ao quinto mês de gravidez. É possível que o feto absorva as características particulares do ritmo da língua materna. De certa maneira, o feto já está trabalhando, aprendendo a língua!
Silvana Montanaro, Psiquiatra MD, formadora de professores Montessori
Música e Linguagem
No primeiro ano de vida a criança tem um interesse especial pela fala humana e em assistir a face e os lábios das pessoas que estão falando. Não é um acidente que a distância entre os olhos do recém-nascido e o rosto da mãe que o amamenta seja exatamente a distância focal do bebê.
Nós podemos alimentar este interesse pela linguagem falando claramente, sem usar tatibitati ou “bebeês”, sem elevar o tom da voz (como fazemos com animais de estimação), e sem simplificar demais a linguagem na presença da criança.
Podemos contar histórias interessantes ou engraçadas de nossas vidas, recitar poemas favoritos, falar sobre o que estamos fazendo: “Agora estou lavando seus pés, esfregando seus dedos para que fiquem bem limpinhos”… e podemos nos divertir com esta importante comunicação. Podemos ouvir música, ao silêncio e um ao outro.
É possível conversar mesmo com crianças muito pequenas, desta maneira: quando a criança fizer algum som, imite-o – o tom e a duração do som da criança. Usualmente se percebe uma resposta incrível por parte da criança da primeira vez que isso acontece, como se ela dissesse “Finalmente alguém entende e fala minha língua”.
Depois de algumas destas trocas, muitas crianças vão começar a fazer sons para você imitar propositadamente, e finalmente vão tentar imitar os sons do adulto. É uma primeira comunicação muito interessante para as duas partes. Não é “bebeês”, podemos chamá-la de “canto”.
Para o primeiro ano, atividades como se trocar, ninar, tomar banho, ser segurado e vestido são os momentos mais importates e mais impressionantes. Peça permissão ou fale para o pequeno que você vai pegá-lo quando você estiver quando o fazendo. Se houver escolha, pergunte a ele se ele está pronto para ser pego, vestido, banhado, antes mesmo de pegá-lo. Crianças sabem quando perguntas sérias são feitas a elas e quando elas têm escolhas. Enquanto você a troca ou dá um banho nela, em vez de distraí-la com brinquedos, olhe em seus olhos e diga a ela o que você está fazendo, faça perguntas e dê escolhas.
O valor desta comunicação cheia de amor e de respeito é imensurável. Ela faz o bebê falar com você, e este desejo de comunicação é a base para o desenvolvimento da língua. O bom desenvolvimento da língua também depende da linguagem que a criança escuta à sua volta nos primeiros dias, meses e anos. Ouvir conversas entre os pais e outros adultos é tão valioso quanto fazer parte da conversa.
Um pai ou irmão que fale ou cante para a criança está ensinando linguagem a ela também. É impressionante quanto de língua se aprende nos primeiros três anos de vida, quando brota uma compreensão da linguagem completa de uma maneira que o adulto nunca poderá imitar.
Nunca é cedo demais para olhar livros juntos e falar sobre eles. Belos livros de papel grosso podem ficar de pé, apoiados pelas capaz e pelas páginas, para um bebê que ainda não pode se sentar para se divertir olhando-os. Eles introduzem uma ampla quantidade de temas interessantes para a criança quando eles desejam ver, ouvir (e falar) sobre tudo.
O Método Montessori dá grande importância para o início da vida. Montessori chamou sua pedagogia de “uma educação desde o nascimento”. Se pudermos perceber o imenso potencial dos primeiros meses e anos da vida da criança e escolhermos dar a ela as condições necessárias para um bom desenvolvimento, seremos, como dizia Montessori, testemulhas do milagre da criação da humanidade, acontecendo diante dos nossos olhos, pelos esforços incessantes das crianças.
O Lar Montessori mantém um curso para famílias que desejam construir relações de compreensão e paz com seus filhos, e temos a alegria de receber comentários incríveis sobre ele todos os dias. Veja um deles:
Curso fantástico, detalhado porém com conclusões rápidas, lógicas. O Gabriel elucida e dá vários exemplos de como poderíamos aplicar no dia a dia as dicas ensinadas. Todos os pais deviam fazer esse curso.
Larissa Gomes Sequeira, mãe