A geração de nossos filhos pode ser a última para quem ainda é possível estabelecer uma relação saudável com a natureza. A cada dia recebemos notícias mais assustadoras sobre o ambiente, mas se ainda temos um caminho, é fundamental que além de ações radicais para salvar o que nos resta, nós consigamos criar uma geração apaixonada pela natureza, e por sua preservação.
Em 1945, em seu livro Mente Absorvente, Maria Montessori já falava de “ecologia” na educação de crianças pequenas, e ainda mais cedo, em 1912, ela publicava uma obra visionária em que apresentava a possibilidade de a área verde e a horta serem os espaços mais importantes de uma escola. A obra se chamava O Método da Pedagogia Científica como Aplicado na Casa das Crianças no Bairro de São Loureço, e mudou a história da educação para sempre – mas não foi suficiente para que todas as crianças tivessem o contato necessário com a natureza.
Ela não parou por aí, e desenvolveu pelo menos quatro maneiras de garantir que as crianças tenham uma percepção clara da importância da natureza e desejem a preservar. Em um momento em que sabemos que o desmatamento na Amazônia praticamente dobrou nos últimos doze meses, conhecer as estratégias de Montessori para ajudar as crianças a se importarem com o mundo natural é tão urgente quanto é fascinante.
Estar em contato frequente com a natureza
Nas escolas de Maria Montessori, havia uma área externa ampla com muito verde, onde as crianças podiam passar quanto tempo quisessem, uma horta para cuidados frequentes, e animais para serem cuidados e alimentados. Quando algum desses elementos não era possível, substituições ocorriam, mas a natureza sempre precisava estar presente de alguma maneira.
Em nosso dia-a-dia podemos tomar esse cuidado. Alguns de nós vivem perto de verde, outros não. Mas todos nós podemos e devemos integrar a natureza em nossa rotina de várias maneiras: podemos brincar em praças e parques, podemos ler na área verde do prédio, se houver, podemos cultivar temperos e comida na varanda e no quintal. Podemos priorizar a natureza quando escolhemos onde morar, ou o tamanho da próxima casa. Nossos filhos percebem que a natureza é boa e importante, e a integração é… natural.
Poder explorar e conhecer o mundo natural
É maravilhoso viver perto de praças e ter canteiros de flores em casa. Mas é ainda melhor se pudermos dar um passo além: não é suficiente para as crianças brincarem de balanço perto de árvores. É necessário que elas possam conhecer as árvores. Precisamos dar tempo e liberdade às crianças, para que elas explorem, conheçam e se relacionem com o mundo. Não basta amar a natureza da National Geographic, da BBC e do Globo Repórter. É necessário amar as cascas de árvores, as folhas velhas e molhadas no chão, o cheiro da terra e os musgos e fungos que sujam as roupas e nos fazem escorregar.
Fora isso, as crianças precisam ter licença para fazer ciência. E fazer ciência quando se é uma criança começa pela exploração sensorial de tudo. Tirar as pétalas de uma flor para ver como é no centro, levantar uma pedra do chão para poder ver os animais (viscosos, mas gostosos!) que vivem embaixo, e até prender um inseto em um vidro por algumas horas para poder ver seu corpo de perto e com atenção – soltar depois da observação, dos desenhos e das fotos é uma ótima ideia.
Ser responsável por outros seres vivos
Existem mais de 8 bilhões e meio de espécies de seres vivos no mundo. Mas uma delas pode ajudar todas as outras a sobreviverem, ou pode acabar com toda a vida do planeta. Para os humanos, conviver bem com a natureza não é suficiente. Nós precisamos cuidar dela.
As crianças gostam muito de cuidar. Se sua casa tem um animal de estimação, ensine sua criança a cuidar dele. As crianças também podem regar as plantas e tirar ervas daninhas. Mais velhas, podem contribuir em hortas comunitárias e desde cedo podem cuidar de plantas na área comum do prédio, ou das mudas na calçada. Ser corresponsável por outros seres vivos toca a criança profundamente e ajuda a criar um laço duradouro entre ela e a natureza.
Reconhecer a ligação dos seres humanos com a natureza
A educação das crianças nem sempre privilegia a conexão dos seres humanos com a natureza. Nós aprendemos sobre a agricultura e a pecuária, e sabemos um pouco sobre a natureza que nós consumimos. Mas sabemos pouco sobre aquela que mantém o próprio mundo que nos cerca. Sabemos pouco sobre as algas responsáveis pelo nosso oxigênio, pouco sobre as areias que viajam no vento e fertilizam florestas por todo o mundo. Entendemos mal o papel dos recifes de coral e das bactérias e fungos que mantêm as florestas ocultas no subsolo.
As crianças gostam de investigar, e da mesma maneira elas gostam de fazer perguntas e ouvir histórias. Tudo bem se nós, pais e professores, não soubermos todas as respostas. Nós podemos pesquisar, estudar e descobrir, mesmo depois de adultos. O importante é entender bem o suficiente para explicar para a criança com encanto, com fascínio. A salvação do mundo virá do fascínio. Essas conversas, investigações e histórias devem apontar sempre para a conexão entre as coisas. Plantas e animais, animais e seres humanos, plantas e ar e gente.
Uma conexão profunda entre civilização e natureza, uma relação de respeito entre humanidade e mundo natural, depende inteiramente das relações estabelecidas na infância e na adolescência. Desde o prazer de estar entre as árvores, até a compreensão científica de sua importância, tudo precisa ser cultivado desde muito cedo. Não só pela natureza, mas por nós, e por nós como natureza, para que um dia não exista separação entre o que nós somos e o que a natureza é. Para que um dia trabalhemos juntos, como um só, por todos nós e pela Terra.
O Lar Montessori tem um curso sobre os incríveis princípios do método Montessori. Milhares de crianças têm aproveitado as transformações que este curso promove. Veja o que alguns participantes disseram:
Maravilhoso!!!Superou as minhas expectativas. Tudo muito claro, bem explicado e um professor incrível. Adorei o curso.
Amanda Ozaki
Muito mais do que eu esperava! É, sobretudo, um curso repleto de informações e generosidade. Como pai, espero aprender muito ainda para ajudar meu filho e esse curso foi um passo bastante importante para que eu me torne um adulto melhor preparado.
Moacir Santana