O Melhor que Podemos Ser (ou: o Nascimento do Novo Mundo)

Todo final de ano, os livros se acumulam à minha volta, as abas do navegador de internet se multiplicam, enquanto eu entro no meu período anual de entender para que serve a vida e qual a melhor maneira de usar o ano que vem.

Foi em um final de ano assim que eu decidi, em 2013, que o Lar Montessori teria um texto novo toda semana. Em outro final de ano assim eu decidi meditar todos os dias, por um ano. Eu ainda não sei o que vou decidir neste final de ano. Ao meu lado, agora, tenho livros sobre a vida de Maria Montessori, meditação, metas de vida, aquecimento global, a história da humanidade, a sociedade da informação, desenho de plataformas virtuais, preparação de cursos online, e um, que ganhei emprestado, sobre os aspectos financeiros do tráfico de drogas (esse último não tem a ver com meus objetivos para 2020).

Passei por soluções de vários autores, mas voltei a Montessori. E nela, encontrei o meu ano de 2020. Talvez você encontre o seu.

Depois de enfrentar duas guerras mundiais e um mundo destruído por elas e pelo totalitarismo que tomou conta da Europa no século XX, Maria Montessori escreveu:

Há algo na humanidade que paira acima disso: ela é capaz de compreender o que é necessário para criar um mundo muito poderoso, muito rico e puro. Há somente um caminho: que cada indivíduo saiba como superar as tentações do poder e da posse.

Maria Montessori em Da Infância à Adolescência

O ponto em que nos encontramos é novo na história da humanidade. Nunca estivemos tão próximos de desaparecer. Talvez, esta seja nossa última chance de criar o que Montessori chamou de um mundo novo, cheio de milagres. E se é nossa última chance, precisamos aproveitar bem.

Minha sugestão é que a gente faça de 2020 o ano da criança. Vamos entender o desenvolvimento delas, o espaço de que elas precisam para crescer, a companhia de que precisam para entender o mundo, os caminhos que têm para se desenvolverem bem. E vamos agir. Vamos nos transformar. Nós temos este final de ano para respirar fundo, e terminar o que começamos. Mas no ano que vem, vamos começar novos. E vamos abrir o caminho para um mundo novo, com nossos alunos e filhos do nosso lado.

“Vamos agir” é muito grande. Então quero dar a você cinco passos exatos, que você pode dar desde agora, e começar o ano que vem com a consciência de quem começa um ano novo, para um mundo novo:

1. Aprenda a esperar.

Nós, adultos, somos rápidos e apressados. Nós queremos chegar, terminar, e ver resultados. Nossas crianças não são assim. elas querem fazer, experimentar e sentir. Por isso, elas demoram muito mais do que nós. Mas é nesse processo demorado que elas criam seres humanos fascinantes, e se nós pudermos ter um objetivo só para todo o Ano da Criança, este pode ser: Aprender Paciência.

2. Aprenda a olhar.

A civilização adulta preparou um mundo todinho só para ela. As crianças, sem querer, passaram despercebidas. O mundo dos adultos é de tijolos, vidro, metal, e materiais da mais alta qualidade possível. O mundo das crianças é de plástico. Antes de terminar o ano, abaixe-se, e olhe o mundo das crianças. Na sua sala de aula, na sua casa. Esse mundo é interessante, bonito, tranquilo, agradável, fascinante? Se não for, o que você pode fazer para mudar? Se dois objetivos couberem no seu ano-que-vem, o segundo pode ser: Transformar os ambientes da criança.

3. Aprenda a ouvir.

Na relação entre adultos e crianças, normalmente o maior fala, e o menor escuta – e, de preferência, obedece. Não precisa ser assim. Em um mundo novo, com relações de menos poder e mais paz, pode ser diferente. Quando as crianças quiserem falar, nós vamos ouvir. Vamos fazer mais, ainda: Vamos conversar. Não como quem quer saber o que houve na escola para saber se foi tudo bem, mas como quem se interessa, de verdade, pelas novidades e pelos segredos que a criança tem para contar. O terceiro objetivo pode ser: Ouvir e se interessar pela vida da criança.

4. Aprenda a permitir.

Montessori dizia, noutras palavras, que o adulto tem medo da liberdade da criança. Quando ela pega um copo cheio d’água, nós não nos aguentamos: “Toma cuidado, vai devagar… Deixa que eu levo para você!”. Se vamos deixar nossas crianças construírem um mundo novo, elas vão precisar de liberdade para trabalhar. Quando um colega ajudar o outro, não podemos interromper e dizer que “cada um faz o seu”. Se queremos um mundo de cooperação, eles vão precisar cooperar desde cedo. Quando uma filha bem pequena tentar levar um cadeira de um lugar para outro da casa, não podemos interromper, proibir tudo ou ajudar demais. Se as mulheres vão ter proeminência nesse mundo novo, precisam ter poder desde muito cedo. Quando uma criança disser sua opinião, ela precisa ser levada em consideração como a dos adultos. Se queremos um mundo que respeite minorias, precisamos deixar muito claro o respeito pelos menores entre nós (que são um terço da humanidade). Um quarto objetivo para o Ano da Criança pode ser: Permitir a ação livre da criança, sem interrupção ou ajuda.

5. Aprenda a reconhecer.

As crianças têm uma vida interior muito rica. Mas nós só vemos a parte de fora. Nós vemos as mãos das crianças amarrando os sapatos, e vemos o relógio apertando os minutos. Mas não vemos as estratégias mentais que a criança está usando, o esforço para mexer um dedo sem mexer os outros, o foco rápido em uma mão e depois na outra, a concentração vigorosa se exercitando e as emoções todas mobilizadas para ajudar a lidar com a ameaça da frustração se alguma coisa der errado. Nós só vemos a parte de fora, e precisamos olhar muito para nossas crianças, para aprender a reconhecer a parte de dentro. Um último objetivo, tão importante quanto todos os outros, juntos, para que o próximo ano seja o começo de um novo tempo, é: Aprender a observar e enxergar o que acontece dentro da criança.

Criar um mundo novo não é uma tarefa fácil. Por isso, só as crianças conseguem fazer. Só elas conseguem fazer as coisas mais difíceis.

Mas nós podemos ajudar.

A tarefa que elas têm pela frente é enorme: criar uma nova humanidade. Vão precisar de toda a ajuda que puderem ter. A gente ainda se encontra este ano, em vídeos e em textos. Mas como nunca é cedo para começar o ano que vem, que tal fazer isso agora?


O Lar Montessori existe desde 2011, mas um ano atrás eu entendi que poderia unir as maiores lições de Montessori sobre como criar relações pacíficas e felizes entre adultos e crianças, e montei um curso com elas. Hoje, ele já ajudou mais de 800 famílias. Veja o que algumas delas têm dito:

Tudo, exatamente tudo o que aprendi no Método Montessori e que apliquei com meu filho gerou o resultado que me foi ensinado.

Márcia Zanchi

Eu confesso que Gabriel supera minhas expectativas a cada curso que realizo.

Renata Acácia

A foto de divulgação desta publicação é de Kathryn Rotondo.

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