Corrigir não Ensina. Ensinar Ensina.

O mais rápido é não fazer nada, não prevenir nada, esperar o desastre acontecer, e aí distribuir a culpa. Essa frase serve para muitos contextos, inclusive para a relação entre adultos e crianças.

É comum que nós, adultos, nem percebamos que precisamos ensinar algumas coisas para as crianças. Afinal, quem precisa ser ensinado a abrir uma torneira, assoar um nariz, e carregar um objeto com cuidado? Quem precisa ser ensinado a vestir as calças?

E no entanto, as crianças vestem as calças ao contrário e, embora nós não achemos que ensinar seja necessário, reconhecemos rapidamente a necessidade de corrigir.

Corrigir é muito mais rápido do que ensinar. Ensinar exige planejamento, preparação, ensaio. Corrigir é algo que acontece ali, na hora, e o trabalho não fica com o adulto, que precisaria planejar uma lição, mas com a criança que, corrigida, precisa se virar para aprender sozinha.

Os adultos que respeitam a criança e conhecem o desenvolvimento se esforçam por ensinar mais do que corrigir. Eu já tive a chance de observar adultos que nunca corrigiam. Os erros aconteciam e, se eram graves, o adulto ajudava a resolver, mas em todos os outros casos, o erro acontecia, a criança resolvia como podia, e num outro momento, às vezes em um outro dia, o adulto ensinava à criança como fazer algo corretamente, ou dava uma lição, ou contava uma história. De alguma maneira, mesmo que a correção nunca acontecesse, as crianças erravam cada vez menos, porque todas estavam aprendendo.

Destruir é muito mais fácil do que construir. Corrigir é muito mais fácil do que ensinar. Mas eliminar uma falha não é o mesmo que construir uma habilidade. Corrigir um erro não é o mesmo que aprender a forma correta de fazer as coisas. Se nós concordamos que o mundo precisa de mais pessoas dispostas a construir, então podemos começar agora: você sabe que a criança que convive com você tem muito para aprender. Não corrija, ensine.

Quando uma criança não sabe fazer alguma coisa, nós precisamos mostrar como se faz. Para mostrar, precisamos fazer muitas vezes sozinhos, antes, e refinar nossos gestos ou ações até que só reste o essencial e o mais preciso possível. Aí, mostramos à criança, com foco, atenção e gentileza, de forma pausada, lenta e silenciosa. E então convidamos a criança a fazer também. Algumas vão fazer imediatamente, outras depois de mais tempo, e algumas só vão experimentar quando tiverem certeza de que nenhum adulto está olhando.

Uma criança, quando começa a aprender algo novo, erra. Ela é gente, e gente é assim.

O nosso papel é perceber que o erro existe, mas não reagir ao erro. Em seus princípios para o adulto montessoriano, Montessori escreve: “respeitar a criança que comete um erro e que pode corrigir-se mais tarde”.

Dê à criança mais uma chance, duas, três. Se depois de muitas vezes tentando ela persistir no mesmo erro, sem pista de que há algo ali para superar, em um outro momento, convide a criança à atividade ou (se possível, ainda melhor) para uma atividade diferente que trabalhe uma habilidade semelhante. Apresente com o mesmo cuidado, e dê à criança uma nova chance de se aperfeiçoar.

Acontece que embora crianças e adultos tenham uma tendência ao autoaperfeiçoamento, as crianças estão menos cansadas, muito mais cheias de energia, e se dedicam a realizar as coisas com o máximo de perfeição frequentemente, mesmo que isso requeira muito esforço. Ensinar, em vez de corrigir, é um ato de confiança no potencial da criança, e é sempre uma boa ideia.

Uma criança que tem a chance de ser mais ensinada do que corrigida pode se construir com a sensação de há mais para aprender e sempre mais para desenvolver. Mas sabe perfeitamente bem que ela não é uma falha, e entende de todas as formas que ela é completamente suficiente para enfrentar com chance de sucesso qualquer desafio que a vida lhe apresente.

Os minutos a mais que usamos para ensinar, em vez de corrigir, ecoam por toda a vida.

O que você vai ensinar, em vez de corrigir, hoje?


Nós montamos um curso pensando na sua relação com as crianças, as aulas são breves, mas cada uma traz um aprendizado relevante na construção de relações pacíficas, felizes e produtivas com as crianças.

Com as primeiras aulas, já é possível melhorar a relação com minha filha de um ano e quase dois meses.

Denise Lins, mãe e aluna do curso

As reflexões deste texto se baseiam no livro A Mente da Criança, e a citação sobre respeitar a criança que erra vem dos Dez Princípios do Educador Montessoriano, de Maria Montessori.

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1 comentário

  1. Olá, Gabriel!
    Espero que vc e sua família estejam bem!
    Estou escrevendo sobre a reflexão que tive do texto que voce me enviou por email, sobre a relação adulto e criança.
    Pude perceber a diferença de tempo e espaço perceptivo que pais devem ter para ensinar, e não corrigir, pois são tempos e espaços diferente dessas ações feita pelos pais.
    Quando eu escrevo da diferença do tempo de ensinar, os pais provavelmente estão mais concentrados e talvez disponíveis para ensinar, isso necessita de tempo e esse tempo é o tempo da criança para absorver e entender que dinâmica é esse que meus pais estão querendo que eu aprenda( pode ser um pensamento da criança); e quando eu escrevo sobre a diferença de espaço é que no momento da correção os pais podem está com pessoas em casa, ou podem estar na rua, pode ter pessoas estranhas por perto e isso é totalmente constrangedor para criança, que quer ser e fazer as coisa para se alegrar e agradar os pais e ser aceita.
    Voce me fez lembrar os ensinamentos budistas tanto tibetanos como chineses, esses filósofos tinha um tempo e um espaço para ensinar os discípulos para fazer aquilo, que irá ajudá-lo a ser um ser mais concentrado, para lutar, ou para simplesmente ser um ser mais conectado com ele mesmo e com o mundo ao redor.
    Bem, admiro muito os Trabalhos de Maria Montessori, e gostos muito de assistir suas lives e já estou acabando o segundo curso com vc.
    Obrigada pela sua dedicação a esse trabalho e por compartilhar com as pessoas.
    Att. Roselane de Souza.

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