É uma das cinco perguntas que mais recebo: A criança educada em Montessori não cresce numa bolha?
E às vezes a gente faz um malabarismo intelectual para provar que não, mas hoje eu quero dizer que sim.
Mas tem quatro pontos importantes.
1. Todas as crianças vivem em bolhas. Uma parte grande das crianças vai para escolas onde ficam sentadas escutando alguém o dia inteiro. Em que outra situação social uma pessoa passa 4, 5, 6, 8 horas do seu dia escutando alguém, quase sem falar e quase sem agir?
Uma parcela bem pequena das crianças vai para escolas bilíngues. Tirando as poucas situações em que o bilinguismo é a realidade social (cidades de fronteira, e alguns países), quando é que o bilinguismo é parte da vida, fora da escola?
A gente não reclama das duas bolhas acima (e nem das doze outras que poderiam entrar aqui) porque entende que esses espaços-bolha são preparações. Isso nos leva ao ponto 2.
2. A gente aceita passivamente a bolha da escola convencional porque acredita que ela prepara. Com alguma sorte, o aluno sai sabendo ler, escrever, e fazer as seis operações. E aceita a bolha bilíngue porque acredita que a criança sai de lá sabendo inglês, ou francês, ou alemão. E acredita que essa preparação é importante.
A gente ainda não entende bem como Montessori prepara, então não entende bem porque a bolha de Montessori vale a pena. Ponto 3.
3. Na Escola Montessori, as crianças convivem com outras de idades diferentes e habilidades diferentes. Exatamente como no mundo exterior. Uma preparação social intensa e longa. Os materiais Montessori, desde os bebês, ajudam a estruturar o pensamento crítico e a criatividade (a criatividade precisa de estrutura para acontecer, por isso crianças que passam por escolas montessorianas têm aparecido como algumas das mais criativas em uma série de estudos), e conduzem a um aprendizado fascinante. Pensamento crítico, criatividade e fascínio por aprender eram habilidades pouco desejadas 100 anos atrás, quando a conversa sobre a bolha começou, mas muito necessárias amanhã, quando nossas crianças sairão da bolha. Montessori prepara de outros jeitos também. Só não cabe aqui, agora.
E aí tem só mais um ponto que eu quero levantar, porque é um ponto que a Montessori levantava.
4. Quando perguntavam à Montessori sobre A Bolha, ela respondia algo nas linhas de: Sim, o mundo é menos preparado para o ser humano do que a escola montessoriana. Mas se você tivesse que atravessar um deserto por várias semanas, você pararia de beber água três semanas antes para se preparar, ou você garantiria sua hidratação, bebendo muita água para entrar no deserto no melhor estado possível?
O mundo todo é feito de bolhas. Empresas, mercados, apartamentos, ruas, cidades, tudo bolha. Bolhas recentes, das quais nos convencemos bastante, mas bolhas. Montessori é uma bolha um pouco melhor. Mas eu gosto mais de pensar em Montessori como um grande ovo coletivo. Um espaço protegido para o desenvolvimento. É quase uma bolha, mas com o propósito específico de proteger a formação do ser humano.
Um dia, a bolha vai estourar, e não vai ser um problema, porque o tempo de ovo é o tempo necessário para o desenvolvimento. Mesmo que haja um deserto, a criança estará pronta. Nosso desejo é que todas as crianças possam se desenvolver assim.
Se você quiser aprender como preparar o melhor ambiente possível para o desenvolvimento da criança, nós estamos com as inscrições abertas para o curso de Formação de Educadores Assistentes no Método Montessori (3 a 6 anos).
Eu participei da última turma do curso. As aulas foram todas maravilhosas, te prepara como profissional e te evolui como ser humano! A equipe responsável é primorosa, todos extremamente empáticos e talentosos! Simplesmente mudou minha vida: hoje sou guia em uma escola montessoriana (agora em formação no CEMSP) graças ao preparo que esse curso me deu! Recomendo 10.000 vezes para quem me perguntar!
Kessy Rizental, aluna da turma de 2020