“Doutrina” vem da mesma raiz de “docente”, e quer dizer ensinar. Todas as escolas ensinam, todas as escolas doutrinam.
Nós usamos “doutrina” para algo que está sendo ensinado e a gente não percebeu. Doutrina é aquilo que a escola faz sem declarar que faz.
Quero dizer mais: doutrina é aquilo que a escola faz quase sem saber que faz.
E todas as escolas doutrinam crianças.
(Todas as famílias também, mas é assunto para outro texto.)
Quando uma criança aprende que não pode ajudar um colega na prova, ela é doutrinada à competição. E a competição é a destruição do outro.
Quando uma criança aprende que precisa levantar a mão para falar, ela é doutrinada a acreditar que só tem voz se uma autoridade der voz a ela. Que a voz só pode existir com autorização.
Quando uma criança pode escolher com que colega trabalhar e o assunto que vai pesquisar, ela é doutrinada a se responsabilizar pelas suas escolhas, ter iniciativa e aprender a negociar decisões coletivas.
Quando uma criança pode ir ao banheiro sem pedir ao professor, ela é doutrinada a respeitar as necessidades e sensações de seu corpo, a comer por fome e beber por sede. Doutrinada à saúde? Pode ser.
Todas as escolas doutrinam crianças. Não vamos mais mentir para nós mesmos, nem para os outros. E aquilo que a gente ensina sem colocar no programa é mais importante do que qualquer conteúdo.
Isso nos leva a algum lugar? A alguma resposta? Eu acho que não. Mas pode fazer brotar perguntas bonitas. Qual é a doutrina que escolhemos?
Vale, rapidinho, ir um pouco mais atrás. “doutrina” também vem da raiz sânscrita dek-, que quer dizer “aceitar”. Não basta doutrinar, é preciso ser doutrinado para tudo funcionar. Nós doutrinamos para que as crianças aceitem ser doutrinadas, ou para que pensem?
Vale pensar sobre isso.
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