A pergunta é válida. Se a resposta for a nada, ou a ninguém, o esforço não compensa. Então a pergunta é válida. Maria Montessori nasceu neste dia, em 31 de agosto de 1870, e atravessou uma vida tortuosa e, em muitos momentos, torturante. Fugiu de guerras e enfrentou perseguilções políticas, foi prisioneira, foi separada de sua família e teve seu trabalho destruído muitas (e muitas) vezes. O suficiente para desistir com honradez em várias ocasiões, e não desistiu. Qual o segredo que esta mulher carregava? O que ela recebeu da criança e que valia tanto assim?
Aqui vai uma interpretação. Se você quiser ler da própria Montessori, leia Montessori, e eu sugiro o livro A Mente da Criança, para um apanhado da obra madura desta cientista revoluncionária.
Aos meus olhos, educados por autoras como Donna Goertz, Erica Moretti e A. M. Joosten, mas também por Lakshmi Kripalani, Judi Orion e Marta Donahoe*, Montessori descobriu uma cura. Para boa parte desta dor que assola a humanidade inteira. Esse buraco que nós não sabemos de onde veio, que nos acompanha, e nós não sabemos para onde vai.
Ela nos ensina que esse buraco vem da infância: mais especificamente, dos conflitos gerados pelo desentendimento do adulto em relação à criança. E nos ensina que o buraco poderia ser menor – a angústia, menor, a ansiedade, menor, os vícios e as crueldades, menores, se os adultos compreendessem as crianças, e agissem não no sentido de causar sofrimento, mas no de curar.
Claro, é preciso curar o adulto para curar a criança. Mas é preciso também curar a criança para curar o adulto.
A Alfabetização em Montessori, a Matemática, as Ciências todas e a História, tudo isso foi reelaborado pela cientista, em psicodisciplinas. Psicoaritmética, Psicogramática, Psicotudo. Porque o objetivo é que cada um dos estudos que a criança desenvolva possa conversar com sua alma, curar um pedacinho dela, ajeitar um canto, cicatrizar algo aberto, desinflamar algo dolorido.
Montessori serve para isso. E porque serve para isso, deve servir principalmente às crianças com mais dores, com mais feridas abertas, com mais inflamações psíquicas.
É claro, para todos, que não estamos lá. Mas no dia de hoje, lembrando a vida de Maria Montessori, podemos também agarrar a esperança radical de que é possível CHEGAR lá. Sobretudo, é possível insistir, e continuar. Nós temos a sorte de poder lembrar de alguém que começou esta caminhada por todos nós, hoje.
Montessori talvez nos dissesse, hoje, para não lembrarmos tanto dela quanto da criança que, diante de seus olhos, revolou-lhe os Segredos da Infância.
Feliz aniversário, Maria Montessori, e obrigado.
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*essa lista é uma lista de sugestões para você ler também.
Sou muito grata por conhecer os ensinamentos de Maria Montessori e pelo seu grande trabalho também Gabriel. Obrigada do fundo do coração!
Que mensagem linda para um ser humano maravilhoso.
Querido Gabriel!
Que alegria celebrar (e poder, humildemente, continuar) esse legado que faz Montessori seguir VIVA em nós, através de nós!
Seu texto traz a mensagem maior de Maria: continuemos, sigamos… vidas podem (e são) ser tocadas e transformadas pelo amor que a fez (e faz) segu(IR)!
Gratidão, queridíssima Montessori!
Gratidão, Gabriel!
Com carinho,
Gabriela Buonocore
Que bom saber de tudo isso !!!