Eram mais de dez da noite, e estava muito frio quando ele foi para a cama. Estava com sete anos na época e eu fui dar boa noite e garantir que estava bem coberto. Fica coberto, tá bom? Quer um copo d’água? Você tá de meias, né? No final das minhas perguntas todas, quando eu já estava antecipando a sensação gostosa de deitar debaixo das cobertas e descansar, veio a pergunta dele:
– De onde a gente veio?
– Você quer saber de onde você veio, ou de onde vieram todos os seres humanos?
– Todos os seres humanos.
Claro. Eu devia saber que esse dia ia chegar. Eu só não sabia que ia chegar às dez da noite. Mas eu conhecia um pouquinho de Montessori, e desconfiava de uma coisa…
– Você quer saber de onde vieram todos os seres humanos, ou de onde veio toda a vida da terra?
– Isso, de onde a gente veio, tudo. De onde tudo veio?
Agora sim. Ele tinha aprendido a fazer a pergunta que precisava fazer. Mas eram dez da noite. Mas ele tinha feito a maior pergunta da vida dele. Mas eram dez da noite. Mas eu não sabia se o interesse ia sobreviver até a manhã seguinte.
– Me dá um espacinho aqui, que essa história é comprida, e eu preciso sentar.
Eu comecei:
Faz tempo. Mais tempo do que nós conseguimos imaginar. A terra ainda era nova, mas não existia vida nela. Havia pedras, oceanos, vulcões, e muitas tempestades. E havia uma poça d’água em uma pedra, e lá caiu um raio…
E assim a história se desenrolou, por mais de vinte minutos, com muitos tons de voz, muitos gestos, e a luz quase completamente apagada. No final, ele não estava dormindo. Não era uma história de dormir, mas de acordar.
– Agora, a gente pode sonhar com tudo isso, e continuar amanhã, pode ser?
Boas noites dados e recebidos, eu fui dormir, e ele também. Não era a Primeira Grande História, que Montessori sugeria, mas era a melhor história possível naquele instante.
No dia seguinte, andamos bastante, até uma praça com muitas árvores, um lago, e um círculo de bancos de pedra. Sentamos no centro, e eu disse a ele que tinha uma história mais antiga para contar: A história de tudo. E lá se foi mais meia hora, com muitos desenhos feitos no chão, folhas voando, nuvens de terra e a inteligência ativa, que Montessori descreve como “uma esfera flamejante de imaginação”.
Estas duas histórias não poderiam chegar em hora melhor. Elas precisavam do sinal de largada: as perguntas enormes que são uma das características do Segundo Plano do Desenvolvimento – o período que vai dos seis até os doze anos de idade.
Depois das histórias, vieram anos de interesse por tudo o que existe. É em homenagem a este interesse flamejante que eu escolhi chamar a nova série de aulas gratuitas do Lar Montessori de A Criança que Queria Saber Tudo.
Nesta série, nós vamos descobrir as principais necessidades das crianças entre seis e doze anos, e vamos começar um mergulho em tudo o que podemos fazer para que a vida e o desenvolvimento sejam incríveis durante este período. Teremos lives no Instagram e no YouTube do Lar Montessori, gratuitamente, dias 17, 18 e 19 de agosto, às 19h (de Brasília). Não precisa se inscrever, é só aparecer lá, na hora marcada.
Se você já tem um grande interesse em saber mais sobre essas crianças, não espere pelas aulas gratuitas: faça antecipadamente sua inscrição em nossa Oficina de Estudos sobre Montessori para 6 a 12 anos e aproveite o desconto que só fica disponível até dia 19/08/23.