Só o Amor Permite a Coragem

As crianças amam os adultos, e é assim que devemos enxergá-las. E no entanto falamos sempre de como os pais e professores amam as crianças. As pessoas até falam que as crianças precisam ser ensinadas a amar seus pais e professores […] e quem são esses professores que vão ensinar a criança a amar? – Maria Montessori

Quando falamos em Montessori, com frequência tratamos da independência da criança, de seu prazer em trabalhar e em estar sozinha. Não atentamos para a frequência com que o amor figura em seu trabalho. Ele é da maior importância. Mas não se trata, aí, do amor que o adulto deve sentir pela criança, mas da lição – constante em Montessori – de que nós só vamos entender e descobrir o amor quando olharmos para a criança.

O amor que a criança sente pode ser a base formadora de toda a sua personalidade. É possível, de verdade, ter uma personalidade cujo chão mais firme seja o amor. Só um chão de amor é forte o suficiente para dar suporte à coragem. Aliás, você sabem o que quer dizer coragem? A pesquisadora Brené Brown explica que:

A raiz da palavra “coragem” é cor – a palavra latina para coração. Em uma de suas formas iniciais, a palavra coragem significava “dizer o que se pensa falando o que está no coração”.

Por isso, o amor precisa ser a base da coragem. E a criança nos mostra isso com clareza. Montessori diz:

Uma vez acordada, ela é impelida na direção daqueles que ama, por quartos ainda escuros, fechados para a luz. Ela vai, tropeçando talvez, mas sem medo das sombras e das portas encostadas, se aproxima de seus pais e os toca levemente.

Às vezes, sabemos, nem tão levemente assim. Mas, depois de uma travessia, é compreensível que a alegria da chegada seja maior que a delicadeza dos gestos. A criança atravessa o que precisa para estar conosco, e nossa companhia é, frequentemente, seu maior presente. Isso não vale só para quando ela acorda, mas também para quando vai dormir:

A criança ama o adulto profundamente. Quando ela vai para a cama precisa fazer isso na companhia de alguém que ame. Mas a pessoa amada pensa: “Esse absurdo precisa parar. Vamos mimá-lo se ficarmos perto dele antes de dormir”. [… a criança lembra de nós e diz:] “Não me deixe, fique comigo!” e o adulto responde: “Não posso, tenho muita coisa para fazer, e que loucura é essa?” e pensa que a criança deve ser corrigida, ou tornará todos escravos de seu amor.

É importante nunca confundirmos a independência de Montessori com a ausência por interesse do adulto. São coisas radicalmente distintas. Eu gosto de dizer que existem duas ausências. Uma presente e uma ausente de verdade.

Na ausência presente, o adulto não está lá, estando. Ele preparou o ambiente, ele ensinou como se faz alguma coisa, e ele está por perto caso seja necessário. Aí, com frequência, ele não é. Porque a criança se sente absolutamente protegida, amparada, e capaz de seguir adiante. O amor lhe dá coragem.

Por outro lado, na ausência ausente, o adulto não está lá de verdade. A criança precisa, por contingências da vida ou por cegueira adulta, passar muito de seu tempo verdadeiramente sozinha, e então cria formas de existir assim, em silêncio, resignada. Esse silêncio é diferente do silêncio do amor e da coragem. Ele é o da incomunicação.

Para Montessori, o amor é que dá liga ao universoporque é uma força verdadeira, e não só uma ideia […] de todas as coisas, o amor é a mais potente.

O estudo do amor, ela defende, nos levará à sua origem: A Criança.


Curso Montessori


Para este texto, usamos os livros Mente AbsorventeThe Child in the Family, de Maria Montessori.

 

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2 comentários

  1. Texto genial. Embora eu tenha apenas um pequeno conhecimento sobre Montessori, identifiquei-me com o ambiente preparado e a ausência presente – intuitivamente ajo dessa maneira
    Parabéns pelo seu trabalho

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