Todas famílias desejam que seus filhos sejam felizes. Em geral, não sabemos exatamente o que significa “ser feliz”, e não sabemos como chegar lá. Mas estamos dispostos a quase tudo para que nossos filhos cheguem. Algumas crianças têm sorte e não precisam esperar pelo futuro para serem felizes, podem ser desde já. Em um livrinho para famílias Montessori fala sobre a relação entre a independência da criança e sua satisfação interior, e os caminhos que podemos adotar para isso.
Montessori explicava que a criança que não pode buscar sua independência encontra inúmero desvios em seu desenvolvimento, como instabilidade emocional, descontrole físico e pouca resistência à frustração. Por outro lado, a criança que pode agir com propósito encontra sua felicidade na atividade, e essa felicidade transborda para uma vida emocional mais resiliente, serena e saudável. Vamos entender agora como partir da situação da criança infeliz, e chegar à criança que encontrou a felicidade.
A Criança Infeliz
A criança precisa conquistar sua independência. Precisa saber que é capaz de fazer coisas, que consegue superar desafios e frustrações, insistir e alcançar o que busca, desenvolver força interior. Quando ela não pode fazer isso, torna-se infeliz.
É fácil saber que uma criança não está realmente feliz. Ela pode ter emoções absolutamente instáveis, pode não desejar fazer coisas que envolvam sua atividade, só querer ser uma consumidora passiva de coisas, histórias e telas, pode ter movimentos descontrolados, caprichos constantes e uma necessidade frequente de ter o adulto fazendo tudo por ela.
A Criança Feliz
Se as crianças infelizes apresentam sinais os mais diferentes, as felizes apresentam sinais muito parecidos: são serenas, tem olhos brilhantes, dedicam-se com vontade ao que podem fazer com as mãos, gostam do esforço e de superar desafios, e não temem o processo do aprendizado.
Em geral, crianças felizes também são crianças que puderam conquistar sua independência e puderam descobrir que a felicidade não mora em um objeto, ou em um adulto que satisfaz suas vontades. Elas sabem, mais ou menos intuitivamente, que a felicidade maior está na construção, na conquista e na descoberta, do mundo e de si mesmas.
Do que a Criança Precisa (ou O Caminho da Felicidade)
Todas as criança, isso é universal, precisam conquistar independência. Isso começa, para as menores, com a independência física. Elas precisam de um ambiente que permita o desenvolvimento dessa independência e de adultos que possam mostrar a ela como usar o ambiente.
O ambiente que favorece a independência é um ambiente amigável. Um que em vez de dizer “voce não pode fazer isso” pode dizer “se você quer fazer isso, faça assim”. É um ambiente fisicamente acessível, com objetos proporcionais às mãos da criança, banquinhos, coisas baixas e acessíveis, espaços só dela e espaços compartilhados.
Além disso, o ambiente precisa apresentar para a criança atividades convidativas, que despertem interesse. Podemos deixar bananas para serem descascadas, um suco por fazer, um pedaço de chão para ser limpo, um espelho para esfregar… A atividade não é importante em si, mas pela concentração, dedicação e propósito que desperta na criança pequena. E a criança não fará a atividade para ter sucesso nela, e terminar. Fará para construir a si mesma, então é possível que assim que termine, comece outra vez.
Essa criança ganha muito com um adulto be disposto. Um adulto que mostre como usar o ambiente e que tenha, sobretudo, paciência. Que mostra, e mostra de novo, e outra vez. Um adulto que não corrige, mas ensina. E um que nunca interrompe uma criança em alguma coisa que ela acredita que consegue fazer sozinha. (A frase é de Montessori).
Quando uma criança que não teve a chance de se fazer independente finalmente encontra um bom ambiente, precisará ser apresentada a ela muitas vezes, até despertar para a oportunidade que está recebendo e já não sabe reconhecer. Nós precisaremos mostrar tudo a ela e ter paciência com seu comportamento. Em Montessori, quase nunca corrigimos o comportamento da criança, e mesmo quando o fazemos, sabemos que não vai funcionar no longo prazo.
Montessori dizia que “A criança não aprende ouvindo palavras, mas por meio de experiências no ambiente”. Em um ambiente novo e preparado, com um adulto paciente e disposto, a criança entrará no caminho para a Felicidade. Felizmente, ela não precisa chegar no fim do caminho para encontrá-la. A felicidade encontrará seu filho logo nos primeiros passos, e então eles serão companheiros inseparáveis de caminhada.
Aqui nos comentários, conte como você faz, na sua casa, para ajudar seu filho no caminho da felicidade. Se você gostou deste texto, use o botão abaixo para compartilhar.
Venha conhecer a criança com a gente!
Muito bom o seu texto. Obrigada! Gostaria, no entanto, de aproveitar esse comentário para fazer um pedido: que, caso lhe seja possível, fale sobre crianças autistas no método montessoriano. Elas apresentam algumas peculiaridades que fazem com que as escolas se percam em como lidar com elas. Você comentou no texto acima, por exemplo, sobre o fato de crianças felizes serem serenas, emocionalmente mais estáveis, gostarem de se dedicar com afinco às coisas e não temerem o processo de aprendizado. Porém, com crianças autistas, esses sinais são opostos justamente pela ocorrência da síndrome. Muitas escolas dizem que antes da criança ter um diagnóstico, ela é uma criança em primeiro lugar, o que é certo, mas essa afirmação também acaba diminuindo a importância da necessidade de conhecimento do quadro do ponto de vista neurológico, pois o desconhecimento faz com que interpretem muitos dos comportamentos típicos do autismo como temperamento, personalidade ou resultado da criação dos pais, que acabam sendo culpados pelos déficits dos filhos e acusados de não garantirem que a criança seja feliz. Sua descrição da criança infeliz acabou sendo muito parecida com o perfil da criança autista, o que pode ser muito mal interpretado pelas pessoas que desconhecem o autismo e que acabem avaliando o estado de felicidade da criança do ponto de vista neurotípico, como a maioria das escolas e pessoas acaba fazendo. Enfim, seria um texto muito útil para os tantos pais de crianças autistas injustamente julgados e mal compreendidos e para que as próprias escolas tivessem uma visão diferenciada nesse sentido, inclusive em relação às adaptações ao método que precisam ser feitas nesses casos. Deixo aqui o endereço do meu blog, sobre a Síndrome de Asperger, que fala um pouco do mundo autista. Lá, há diversas traduções de textos de fontes confiáveis, de profissionais com ampla experiência no assunto, que procuro divulgar justamente para contribuir para que mais pessoas tenham acesso à informação de qualidade sobre uma síndrome ainda tão desconhecida, uma vez que há, ainda, forte escassez de materiais em português sobre o assunto. Forte abraço!
Blog: https://sindromedeasperger.blog/tag/professores-dicas-de-manejo-e-convivio-com-alunos-com-asperger/
E minha casa procuro na medida do possível aplicar todos os ensinamentos de Montessori. Os resultados tem sido excelentes, tudo para transcorrer de forma mágica, obrigado Gabriel!
Como Montessori enxergaria a “cama compartilhada”, para uma criança de 1 ano e 1 mês, que ainda mama em LD? Muitos me dizem que isso vai “fazer mal”, que vai deixar “apegado demais”. Mas por outro lado, leio relatos de crianças independentes que saíram de criações assim, com apego. Gostaria de saber como essa maneira de dormir é vista pelo método Montessori.
OBrigada!
Não existe uma opinião só sobre o tema em Montessori. A forma mais inclusiva que já vi para fazer cama compartilhada com crianças Muito pequenas é fazer a cama compartilhada na altura do chão, para que a criança possa deitar sempre que tiver sono.
Obrigada por responder, Gabriel.
Entendi, mas nesse caso, seria mais sobre independencia de ir e vir, correto? Me refiro mais no sentido de dormir com os pais, e não sozinho, mesmo que haja a possibilidade de subir descer quando quser, que de fato, é o que ocorre aqui em casa, uma vez que dorme no colchão comigo, que está no chão. Há uma linha que leva a pensar que isso gera insegurança, etc. Minha psicóloga disse que vou prejudicar meu filho, gerar uma dependencia excessiva. Tens alguma opinião sbre isso?
É tudo muito interessante e novo pra mim! Meu maior desafio é aplicar essas praticas com meus filho de 7 anos que é especial e é dependente de um adulto por ter dificuldades motoras…Não sei até que momento devo ajudar.
Seu blog é ótimo! parabéns!
Procuro proporcionar independência e autonomia… dentro da casa e acima de tudo respeitando-o.