No dia a dia, fazemos escolhas sobre a educação das crianças o tempo todo. O que ensinar, o que esconder, o que permitir, o que interromper. Fazemos um esforço sincero para escolher pensando sempre no bem da criança.
Sobre isso, Montessori nos diz:
É estranho como frequentemente sentimos que o bem da criança coincide com nosso próprio conforto.
Maria Montessori Speaks to Parents
Faz poucos dias, uma criança me perguntou se podia correr, e como, de onde eu estava, não conseguiria vê-la, pedi que esperasse. Ela, que já tem seus sete anos de idade, me perguntou porquê. E eu, que não tinha um porquê digno de ser dito, mudei de ideia: “Pode ir, vai lá. Vai e volta!”. Esperei, com o coração ansioso. E ela voltou.
Geralmente, não admitimos o menor desconforto em nome da liberdade da criança. Queremos que ela abandone mesmo aquilo que é importante para seu desenvolvimento (movimento, comunicação, pegar coisas, repetir ações) em nome do nosso bem-estar.
Quando uma criança está abrindo e fechando uma gaveta várias vezes seguidas, e portanto fazendo algum barulho com isso, nós desabamos em trovões sobre ela, mandando que pare, porque “ela precisa aprender que estraga”. Quando sobe e desce um degrau da calçada três ou quatro vezes, nós encontramos uma pressa sem razão para mandar que pare também, “porque ela precisa aprender que tudo tem hora”. Se ele está brincando na torneira do banheiro, pedimos que feche porque “precisa aprender a economizar”. Quando ela nos pede para ficar por perto até que pegue no sono, dizemos a nós mesmos que pelo seu bem “ela precisa aprender a dormir sem companhia”, e vamos embora. Os exemplos são infinitos. Elas sempre precisam aprender alguma coisa.
Note que abrir e fechar uma gaveta trinta ou quarenta vezes não vai, de verdade, piorar as coisas. Como dez minutos de torneira aberta, cinco minutos subindo e descendo degraus ou quinze minutos de cafuné, também não vão.
A única coisa que se estraga com tudo isso é nosso conforto. Precisamos esperar. Ouvir. Assistir. Ficar. Quando perguntaram à Maria Montessori qual a essência de seu método, ela respondeu, em duas palavras:
Esperar olhando.
Precisamos aprender a esperar olhando. Nesse processo, nosso conforto vai embora. E nós esperamos, olhando. Nossas certezas se transformam em dúvidas. E esperamos olhando. Nossas dúvidas se transformam em revelações da criança. E esperamos olhando. As revelações da criança se transformam em milagres de desenvolvimento. E nós esperamos olhando.
As ações da criança vão sempre nos incomodar. Nós somos essencialmente diferentes delas. Nós trabalhamos para construir um mundo que está fora de nós. Para nós, o resultado é mais importante que o processo. Nós medimos nosso sucesso pelo final, e não pelo caminho. A criança vive ao contrário. Trabalha para construir um mundo interior. Os seus esforços são para a construção do ser humano. E aí o processo importa mais que o resultado. O sucesso está no caminho.
Da próxima vez que você for agir pelo bem da criança pergunte para você mesma(o): “Por acaso, o bem da criança também vai me deixar confortável?” e em caso afirmativo, veja se você está mesmo agindo pelo bem da criança, ou se, só daquela vez, por acaso, o seu conforto é a prioridade da situação.
Se estivermos dispostos a esperar olhando, vamos abrir mão de nosso próprio conforto. Isso não precisa ser um tormento ou um castigo. Nós podemos aprender a encontrar satisfação e realização em sair de nosso espaço mais confortável. Para chegar ao seguinte: o espaço onde os milagres acontecem, e a criança constrói o ser humano.
Eu acredito que é possível viver em paz com crianças. Criei um curso para famílias que também acreditam nisso. Veja o que alguns alunos comentaram:
Me encheu de esperança em alcançar a paz com meus filhos e outras crianças.
Cristina Tavares, mãe
O Curso é excelente e bem eficaz. Estou muito feliz em fazê-lo porque está esclarecendo todas as dúvidas que eu tinha sobre a relação adulto e criança.
Liliane Araújo, mãe
Há 5 dias eu comprei o curso e assisti tudo. Fiquei tão maravilhado com o conteúdo e com seu amor em passar o que aprendeu… E só tenho a agradecer. A mudança é real.
Alan, pai
Belo texto! é bem profundo e verdadeiro. Obrigado!