Porque Ficar Junto com os Pais É tão Bom para as Crianças

Se você tem filhos pequenos, sabe que uma coisa é verdade: a presença de um adulto confiável é a maior garantia da tranquilidade dos bebês. O adulto confiável em geral é a mãe, mas pode ser o pai ou outro responsável que esteja presente desde as memórias mais antigas do bebê – possivelmente, desde a gestação. Se este adulto está perto, e disponível, parece que tudo fica bem em um passe de mágica. Por que isso acontece?

Montessori, antes de ser a maior revolucionária da história da educação, foi psiquiatra e antropóloga. Analisando o comportamento de várias espécies de mamíferos, Montessori aponta para um traço comum na forma como todos eles se dedicam aos seus filhotes: a mãe, nos primeiros tempos de vida de sua prole, busca um lugar isolado e protegido, prepara um espaço seguro e confortável, e protege os pequenos de tudo, com sua companhia e seus cuidados constantes. Isso é verdade para os gatos e os lobos, os ursos e os tigres. E, se fosse sempre possível, provavelmente seria o caso com todos os humanos também.

Nós sentimos vontade de proteger e agasalhar o bebê de cuidados. Essa vontade é constantemente desrespeitada por um mundo que oferece um tempo curtíssimo de licenças para os pais, exige turnos de trabalho de oito horas e traslados de mais de hora para ir e retornar, paga mal e disponibiliza, em tempo de folga, o mesmo para adultos que usarão esse tempo no cinema e os que passarão cada instante cuidando do futuro da humanidade. Mesmo assim, a vontade de proteger e cuidar permanece. E a vontade da criança, de ser protegida e cuidada, é ainda mais forte que a nossa.

Silvana Montanaro, que também era psiquiatra e dedicou sua carreira às crianças de 0 a 3 anos de idade, comenta que as crianças gostam tanto desta proximidade e cuidado porque algo nela lembra seu estado pré-nascimento. Mesmo durante a gestação, algumas memórias são criadas em relação aos sons da voz e dos batimentos cardíacos da mãe, e à voz do pai. Quando a criança nasce, é reconfortante encontrar aquele mesmo som de voz, aquele mesmo ritmo de batimentos cardíacos.

O lugar é diferente, mas a pessoa é a mesma.

Silvana Montanaro, em Understanding the Human Being

A criança aprecia poder encontrar pontos de referência para entender o que está acontecendo. Há pontos de referência que dizem respeito a ela mesma (movimentos do seu corpo, tocar o rosto ou a boca com a mão) e outros que são relativos aos adultos (a voz, o coração). O começo de sua vida não é o começo de sua memória, e ela aprecia quando sente que continua em segurança, continua protegida, como estava dentro do útero.

A criança, para Maria Montessori, é uma professora de amor. Ela ama o adulto, e ama a segurança que a presença do adulto pode lhe trazer. A presença consciente do adulto é suficiente para trazer alegria e aliviar o sofrimento das crianças. Nós nem sempre sabemos amar. Com frequência, queremos amar a criança e dar conta de mais três obrigações, ao mesmo tempo. Nós dizemos a nós mesmos que “não tem outro jeito”. Mas a criança precisa de nossa presença. E quanto mais nova, mais precisa.

Quando a criança tem certeza de que um adulto confiável estará lá para ela, sente-se segura o suficiente para arriscar, para ficar sozinha, para testar e experimentar com habilidades novas. Sabendo que existe um refúgio para onde voltar, a criança pode se lançar à vida, com coragem e força de vontade, e pode conquistar tudo o que a vida tem para lhe oferecer.

A presença de um adulto confiável é o que traz à criança bem pequena a certeza de que está tudo bem, ou vai ficar tudo bem daqui a pouco. A ausência desse adulto pode significar a ausência de referências, e portanto, insegurança. Precisamos sentir, em nossos corações, a importância desses momentos juntos. O que estamos fazendo é muito mais do que alimentar, limpar, ninar. Nós estamos mostrando para nossos filhos que o mundo é um lugar seguro e confiável, disponível para ele. Que existe amor, segurança e alegria. Só a partir desta base nutritiva de emoções saudáveis é que a criança pode alcançar a maior conquista de sua vida: liberdade, para ser quem ela é e ser aceita, e para fazer o que é necessário para se desenvolver plenamente.


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Referências deste texto: Cap. 5 do livro A Criança, de Maria Montessori; Cap. 1 e 2 do livro Understanding the Human Being, de Silvana Montanaro; Cap. 4 do livro The Child in the Family, de Maria Montessori.

Desenvolvimento Infantil, Preparação do Adulto , , ,

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