O Nome Secreto da Birra

Os contos de fadas dizem que quando descobrimos o nome verdadeiro de um monstro, ele desaparece. Quase todas as famílias já tentaram de tudo, e continuam encontrando a birra em cada canto da casa e do dia. Neste texto, nós vamos descobrir seu verdadeiro nome, como nos contos de fadas, talvez ela vá embora.

Tente lembrar das últimas vezes que o monstro da birra apareceu. Vocês estavam num shopping? Seu filho estava cansado? Ou foi por uma bobagem que você o mandou fazer e ele se recusou? E se nós pudéssemos descobrir que, no fundo, quase todas as situações de birra infantil na verdade não são birra, e que todas têm causas que nós podemos entender?

Maria Montessori, uma das maiores cientistas a estudar a infância a partir de seu comportamento, descobriu que as crianças vivem em ambientes difíceis. Vamos ver algumas evidências disso:

  • As crianças precisam se mover muito, mas nós moramos em casas cada vez menores, e temos cada vez menos tempo para elas.
  • As crianças precisam conquistar sua independência, aprendendo a fazer sozinhas, mas nós temos medo de deixar, e pressa para ver as coisas prontas, por isso impedimos ou ajudamos muito.
  • As crianças precisam conversar para desenvolver sua socialização, mas passam cada vez mais tempo em telas, e nós também, com a comunicação cada vez menor.

Agora, um dado que me assustou, quando eu mesmo notei, observando famílias e educadores conversando com crianças:

  • Com frequência, 70% ou mais da comunicação entre adultos e crianças é composta por ordens (faça isso, venha aqui) e proibições (não faça isso, desça, pare).

Os ambientes em geral não foram feitos para as crianças, e nem a forma como o tempo é organizado, ou a rotina. Elas vivem em ambientes, tempos e relações inadequadas e, de verdade, opressivas. É cansativo ser criança.

Nós vamos já chegar às boas notícias. Mas antes imagine, por um momento: Você sente a necessidade de tomar água, mas para isso precisa pedir. O mesmo vale para a comida e o sono. Você sabe que para se sentir bem precisa fazer exercício, mas é obrigada a ficar em casa o tempo todo. Além disso, alguém mais forte e com mais autoridade te dá ordens a cada dez ou vinte minutos – interrompendo o que você queria fazer e mandando fazer coisas menos interessantes. Não é uma vida fácil, mas é a vida das crianças, todos os dias.

Se eu vivesse assim, isso me levaria ao desespero. Talvez eu ficasse realmente revoltado. É exatamente assim que as crianças se sentem.

Mas há uma diferença: eu sou adulto. Às vezes me desespero, e até me revolto, mas sei avaliar a situação e consigo controlar meu comportamento. Por uma questão de desenvolvimento cerebral, as crianças não conseguem. Quando elas se desesperam, mostram isso com suas atitudes, e quando elas se revoltam, a gente escuta o grito e o choro.

Este é um momento importante, porque estamos descobrindo os verdadeiros nomes da birra: desespero e revolta. E isso faz toda a diferença porque…

Se eu digo: “Meu filho fez birra”, fica por isso mesmo. Ele fez birra porque crianças fazem birra, e é um problema que adultos precisam enfrentar.

Mas se eu digo: “Meu filho estava desesperado”, em seguida preciso me perguntar: “Por que ele estava desesperado?”.

Se eu digo: “Meu filho se revoltou”, preciso descobrir: “Contra o que ele se revoltou?”.

E assim, eu consigo pistas. Se observar bem meu filho e as situações que o levam ao limite da sua capacidade emocional, vou encontrar, no final três ou quatro possibilidades, frequentemente:

  1. Ele precisa conquistar sua independência, e não está conquistando. Eu faço demais por ele, ajudo demais quando ele faz, interrompo seus esforços ou proíbo as tentativas dele se fazer as coisas sozinho.
  2. Nós não estamos nos comunicando de verdade. Talvez eu ache que falo com ele, porque ele fala o dia inteiro. Mas se eu ficar atento às minhas falas, vou perceber que as maiores são sempre ordens e proibições.
  3. A vida dele está fora do eixo. Mudamos de casa ou de rotina, de organização dos móveis ou alimentação. Ou, pode ser, eu mudei minha postura sobre alguma coisa que ele faz, e ele está muito confuso.
  4. Alguma necessidade muito importante do desenvolvimento dele está sendo desrespeitada.

Quando nós encontrarmos a causa do desespero e da revolta de nossos filhos, vamos perceber que existem soluções. Elas não estão na resposta que nós vamos dar no momento da crise. A solução verdadeira está em não dar motivos para que a crise aconteça, para início de conversa.

Quando não existem motivos para o desespero e a revolta, nós não ficamos desesperados, e não nos revoltamos. Em outras palavras: a birra desaparece.

É por isso que os monstros desaparecem quando descobrimos seu verdadeiro nome. Eles não são monstros de verdade. A gente só não sabia.


Eu não sei dizer quantas famílias vivem melhor depois de descobrir o nome verdadeiro das birras, e quantas chegaram ao ponto de esquecer que isso tinha sido um problema grave um dia. Cada uma dessas famílias agradece a Montessori – e eu também agradeço – por ajudar a construir relações mais pacíficas em casa. Depois de estudar a fundo a obra de Montessori e conversar com centenas de mães e pais, eu montei um curso que traz as descobertas mais brilhantes e úteis para nos ajudar a construir relações melhores com nossos filhos. Para minha alegria, ele tem sido útil para muita gente:

Eu amei. Vai me ajudar muito a entender meus filhos e viver em paz com eles. Muito obrigada!

Denise Batista, mãe

Curso maravilhoso. Gabriel consegue em pouco tempo contemplar muitos assuntos, trazer referências às obras e ainda tocar e emocionar a quem está assistindo. Parabéns!

Inara Félix, mãe e professora

Estou enxergando melhor o ser humano pequenino que está a minha volta e tenho um mundo de possibilidades para apresentar à minha filha, estou encantada, apaixonada por esse curso. 

Priscilla Rodrigues, mãe

Fotografia de divulgação do post: https://www.flickr.com/photos/mindaugasdanys/

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2 comentários

  1. Adorei o texto, muito útil para eu lidar com alunos do maternal (4 anos) que trazem vícios de famílias desestruturadas.

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