Porque as Crianças Fazem o que Fazem – A Descoberta de Maria Montessori

Muita gente pediu para Montessori resumir seu método em poucas palavras. Muita gente ainda pede a montessorianos para fazerem o mesmo, e é difícil. Lá na frente no texto eu conto o melhor resumo que já ouvi. Mas este texto é sobre outra coisa. É sobre o que eu acho que é a maior descoberta de Montessori, a melhor de todas, e a que mudou a minha vida, o meu trabalho e o meu jeito de viver com adultos e crianças.

Montessori estudou crianças por mais de cinquenta anos. Observando o comportamento delas em todos os contextos sociais, históricos e geográficos. Descobriu constantes no desenvolvimento infantil, e variações importantíssimas. Descobriu de onde vem o interesse da criança, e como o manter, como preparar o melhor ambiente para o desenvolvimento natural da criança, e como conversar com elas de forma pacífica. Montessori descobriu a própria criança. E Montessori descobriu que em momentos diferentes da vida, a criança tem necessidades e comportamentos diferentes.

Para mim, a maior descoberta de Montessori, que não está em uma frase só, ou num só livro, é que necessidades ditam comportamentos. A criança faz as coisas do jeito que faz porque precisa de alguma coisa e está tentando conseguir. Parece abstrato. Não é.

Pense em uma criança de dois anos e meio. Ela não fica parada por muito tempo. Sobe, desce, escala, pula, corre. E nós pedimos para ela ficar quietinha só um pouquinho, e ela sai correndo. Nós nos irritamos, e vamos deter seu movimento, e ela chora. Nós achamos que ela chora porque queria se movimentarEstá erradoEla chora porque precisava se movimentar. O que há nela não é uma vontade, mas uma necessidade mesmo. A necessidade do movimento. E essa necessidade determina seu comportamento. Como ela precisa se movimentar, vai fazer todo o necessário para conseguir.

Assim começa a ficar claro. Necessidades determinam comportamentos.

Vale para a criança de dois anos, e vale para o adolescente. Ele fica acordado até muito tarde no celular falando com os mesmos colegas com quem conversou o dia todo na escola. Nós pedimos que ele vá dormir cedo. Ele finge que vai, e liga o celular de novo e está morrendo de sono no dia seguinte. Nós achamos que ele queria ficar conversando até tarde. Está errado. Ele precisa de um grupo na vida, e de um convívio intenso com o grupo. Como nós não promovemos espaços, experiências e condições para que bons grupos se desenvolvam na adolescência, eles se agarram aos poucos grupos que têm: Whatsapp, Facebook, Instagram… E tentam satisfazer aí uma necessidade que só pode ser satisfeita de verdade no mundo real.

Em qualquer momento da vida, necessidades determinam comportamentos. A melhor definição que já ouvi do método Montessori foi de uma pessoa que entrevistei para minha primeira pesquisa: “É você saber que onde quer que haja pessoas, essas pessoas precisam de ajuda. E Montessori é essa ajuda, é ajudar o mínimo possível, fazendo as coisas certas, o mínimo possível“. Para fazer as coisas certas é necessário saber essa regra de ouro: os comportamentos vêm das principais necessidades da criança.

Isso tem consequências importantes, e uma delas eu aprendi essa semana. Uma formadora do Centro de Educação Montessori de São Paulo estava me dando conselhos e sugestões sobre comportamento em sala de aula, e disse: “Pergunte-se, Gabriel, do que ela precisa. Do que ela precisa agora?”. E como num passe de mágica, eu enxerguei a situação em questão muito melhor. Como se o sol aparecesse de repente. Do que ele precisa? Do que seu filho precisa? Do que você precisa? O que dita o comportamento do seu filho? O que dita o seu?

Necessidades ditam comportamentos. As pessoas, mesmo as menores e as mais incríveis entre nós, não se comportam como se comportam só porque querem, mas porque precisam. Ou os comportamentos mais importantes são uma tentativa de satisfazer uma necessidade, ou eles são o efeito de uma necessidade não-satisfeita. Uma coisa, ou a outra. E se nós nos fizermos a pergunta certa, estudarmos um pouco e observarmos muito, podemos descobrir de verdade do que a criança precisa. E aí, queridos, nossas vidas, e as vidas de nossos filhos, melhoram como num passe de mágica.

Se esta descoberta fez diferença em sua vida, compartilhe este texto, leve Montessori para mais crianças!


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Curso Montessori


Imagem em destaque: https://www.chiaravalle.org/

5 comentários

  1. Gabriel, seus textos são músicas para meus ouvidos. Adoro lê-los! E agora que tenho um pequenino em casa, fico tentando entendê-lo e ajudá-lo, mesmo que “o mínimo possível”.

    Tenho apenas uma dúvida: quando devemos repreender a criança? Pergunto isso porque muitas amigas dizem que não deixam os filhos mexer nas gavetas, brincar com potinhos, essas coisas de criança, simplesmente porque “não pode”, porque vai ficar uma criança “inconveniente”. Ao meu ver, se não oferece risco para a criança, para outra pessoa ou para o ambiente, não devo reprimi-lo. É isso mesmo? Ou estou sendo permissiva?

    Obrigada e parabéns pelo lindo trabalho.

  2. Meu querido, bom dia!

    Usando o seu blg para contactá-lo, pois não estou conseguindo retorno pelo e-mail e whatsapp.

    Precisamos muito lhe falar, assim que puderes entre em contato.

    Abraços

    Luzia

  3. Ameei!! Sempre falo pro meu marido que o bebê não consegue controlar o impulso de por coisas na boca, ou jogar coisas no chão . Faz parte do desenvolvimento dele. Imagino que para ele seja irresistível a vontade de ver as coisas caindo e fazer elas caírem. Tipo drogas kkk

  4. Texto riquíssimo nos conduz ao que Montessori sempre quis para a educação: o acolhimento e o respeito a criança e as suas necessidades. Muito obrigado Gabriel!

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