Quando o Brinquedo Impede a Criança de Brincar

Brincar é o trabalho da criança. A frase é de Maria Montessori e continua tão verdadeira hoje quanto era quando ela escreveu. O objetivo da criança é a construção de si mesma. A brincadeira livre, em que as crianças escolhem o que fazer, quando fazer e onde, é um dos principais aspectos de suas vidas.

Agora, por favor, veja o vídeo abaixo, com ou sem som, e repare nos brinquedos das crianças:

Você notou, com certeza. Quase não há brinquedos. Mas todos nós concordamos que as crianças estão brincando! E, talvez, estejam brincando ainda mais do que se tivessem brinquedos, não é?

Isso acontece porque brinquedos limitam as brincadeiras das crianças.

Em primeiro lugar, a maior parte dos brinquedos é realmente malfeita. Sem cuidado, sem acabamento, sem um foco em encantar a criança e expandir sua capacidade criativa. A maior parte dos brinquedos são construídos para a criança querer comprar, mas não para serem interessantes no longo prazo.

Um segundo aspecto que torna os brinquedos nocivos para a capacidade que a criança tem de brincar é que eles vêm de fábrica acabados demais. Não existe abertura para a criança inventar, investigar ou explorar. O brinquedo vem pronto, alguém já decidiu o que a criança pode fazer com ele. Nós vemos anúncios de produtos ensinando a criança a brincar:

Propagandas como essa são proibidas no Brasil, mas ainda são comuns. Elas ensinam a criança o que fazer com o brinquedo para que não exista nenhum engano: este brinquedo não existe para você criar, mas para você copiar.

Não é necessário fazer um anúncio de televisão ensinando uma criança a pular poças d’água (ou em poças d’água). Nem uma propaganda mostrando tudo o que se pode fazer de interessante com um galho de árvore. Nós não precisamos de peças publicitárias sobre tomar banho de chuva, cavar buracos na terra, ou construir castelos de areia.

Não precisamos de ninguém ensinando crianças a brincar, porque isso elas sabem fazer, sozinhas, por conta própria. As crianças sabem fazer o seu trabalho. Elas só precisam de anúncios didáticos quando uma fábrica em algum lugar cria um brinquedo que impede a brincadeira de verdade, e depois precisa vender esse brinquedo, convencendo os adultos e as crianças de que a brincadeira ficará melhor com ele.

Em liberdade, se as crianças tiverem um espaço onde possam escolher entre os brinquedos e as brincadeiras, elas sempre escolhem as brincadeiras, e deixam os brinquedos de lado. Afinal, ninguém tem tempo para brinquedos quando tem pela frente o enorme trabalho de criar o ser humano – brincando.


Eu converso com professores e famílias sobre Montessori há anos, e se aprendi uma coisa é que precisamos de companhia na nossa caminhada. Por isso, semanalmente você poderá encontrar, aqui no Lar Montessori, uma nova aula, em ritmo de conversa com famílias e educadores, sobre um tópico importante no método Montessori e nas vidas das nossas crianças. Veja o que um exemplo do que os participante estão dizendo:

…têm sido tão importantes pra nossa família. Comecei meus estudos há pouco e tenho aprendido tanto, e é bom que seja semanal, pois me dá tempo de assimilar e ler mais sobre o tema da semana até o próximo encontro. Gratidão, Gabriel.

Lora Nascente

As principais referências para este texto foram o livro O Segredo da Infância, de Maria Montessori e The Last Child in the Woods, de Richard Louv.

Uma nota sobre este texto: a frase inicial é de Montessori, como explicado. A partir dela, tomei a liberdade de utilizar o termo “brincadeira” para designar a atividade criativa e investigativa da criança, como se faz nos textos de Educação e em artigos recentes comparando a aprendizagem pela brincadeira com o método Montessori. Em outros textos do Lar Montessori, você encontrará uma diferenciação mais clara entre trabalho e brincadeira.

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