Esse é assunto que não sai da minha cabeça há semanas. Tenho dois post-its, páginas e mais páginas de anotações, e seis pedaços de papel na mesa em que escrevo, com ideias, perguntas, pequenos pânicos e algumas luzes. A pergunta que me faço todos os dias é: por onde Montessori começaria a pensar?
Claro, a resposta é a de sempre: ela começaria pelos potenciais latentes das crianças. Como podemos ajudar os potenciais da criança a desabrocharem em período de pandemia?
E você pode se perguntar, como eu me perguntei por essas semanas todas: “Mais essa? Minha casa já está de pernas para o ar com homeoffice improvisado na sala e uma quantidade anormal de comida para fazer e roupas para lavar, e agora eu preciso prestar atenção nos potenciais latentes da criança?” – ou, se você tem uma escola: “Já estava louco o suficiente fazer transmissões ao vivo em vez de dar aula, e agora precisamos pensar nos potenciais das crianças que nem podemos ver?”.
Eu não quero complicar sua vida. Então a sugestão vai ser a mais simples que eu consigo: Faça uma pergunta para o seu filho ou seu aluno e baseie os próximos dias nela, e eu aposto que vai funcionar.
De 3 a 6 anos: O que você sempre vê papai e mamãe fazendo em casa e tem vontade de fazer também?
De 6 a 12 anos: O que você tem vontade de entender no mundo, mas nunca ninguém te explicou?
De 12 a 18 anos: O que você acha que precisa ser diferente no mundo?
A partir daí, você vai encontrar um projeto de educação montado. As respostas das crianças vão apontar o trabalho mais importante a fazer com elas. O currículo escolar não é o mais importante agora. Do ponto de vista cognitivo, mais importante é que o raciocínio, as habilidades e o desenvolvimento das crianças estejam afiados. Quando a escola voltar, eles serão usados como a escola sempre ajudou a usar. Enquanto isso, essas perguntas vão apontar bons caminho.
Antes de continuar, uma observação: pode ser que sua criança de menos de 3 anos não consiga dar uma resposta, e não precisa. Você pode observar e entender, pelo comportamento e os movimentos dela, qual o aprendizado que precisa acontecer agora. Se ela não para de subir e descer do sofá, faça um circuito de movimento com a mobília da casa. Se ela brinca com prendedores, deixe que ela pendure as roupas.
Quando seu filho de 4 anos responder que tem vontade de fazer suco de laranja, mostre a ele, bem devagar e com cuidado, como se faz, e deixe ele fazer. Ele vai errar, tudo bem. E você pode separar as laranjas para terminar de espremer depois, ou pode dividir: ele espreme metade, e você espreme depois que a força dele tiver tirado todo o suco que conseguia.
Quando seu aluno de 7 anos disser que queria entender como as árvores fazem para crescer, encomende a pesquisa. Se levantar fontes para 30 alunos diferentes for trabalho demais – e pode ser! – ofereça a eles cinco, dez perguntas, para que eles escolham uma para trabalhar. Deixe os links de textos e vídeos à mão, e explique que eles precisam fazer um ______ (complete com: texto, desenho, cartaz) para mostrar a resposta ou o resultado a que chegaram. Isso pode não resolver todos os seus problemas, mas vai resolver muitos dos deles. E vamos lembrar: Montessori é sobre os potenciais latentes das crianças.
Quando a garota de 13 anos estiver num misto de tédio e desespero com a quantidade de coisas que tem para fazer, entregue a ela uma autorização para pensar com liberdade (pode ser um pedaço de papel, ou um e-mail) e faça a pergunta. Quando ela disser que a coisa mais errada que existe é algumas pessoas terem acesso a água e outras não, porque ela andou ouvindo o jornal que você assistia, peça a ela para entender de onde vem a desigualdade do acesso à água e para encontrar uma solução. Pode ser que as circunstâncias não permitam esse nível de liberdade sempre, e pode ser que ela precise de mais suporte do que você pode dar normalmente. Então, que tal as quartas-feiras-livres? Nas quartas, ou quintas, ela para tudo, e pensa. Lê textos e reportagens, conversa com colegas, manda e-mails para especialistas, assiste a palestras em vídeo, e descobre as origens e as soluções para problemas que a incomodam. Pode ser que alguém volte da quarentena mais forte do que entrou.
Montessori nos disse que a missão do adulto é ajudar a criança a “agir por si mesma, pensar por si mesma, querer por si mesma”. Agir, pensar, querer. Exatamente as três perguntas que fizemos: O que você quer fazer? O que você quer entender? O que você gostaria de mudar?
Vamos experimentar?
Você já conhece as Manhãs com Montessori? São nosso jeito de estar junto todas as semanas, conversando sobre o que mais importa para o bem estar e o desenvolvimento das crianças, a partir do método Montessori. Quase cem pessoas se encontram todas as terças-feiras para conversar, e depois assistem novamente aos vídeos dos diálogos, para levar mais Montessori para as vidas de suas crianças. Algumas famílias têm dito que as Manhãs são um oásis, e na época que estamos vivendo, elas têm sido um refúgio também. Como faço com tudo no Lar Montessori, as Manhãs também têm um valor de assinatura bastante acessível, para que muita gente possa participar. Se Montessori ajuda você a viver melhor com suas crianças, dê uma olhada: