A Educação Deve Começar no Nascimento

Acreditamos, e sinceramente, que somos pais e mães da criança, e que por isso somos responsáveis pela criação de novos seres humanos. A isso, Montessori responde:

A criança é a mãe e o pai do ser humano.

Maria Montessori, A Criança*

A criança nasce, e já tem uma vida interior vibrante. Por fora, parece inerte, não se movimenta, e nem fala ainda. Por dentro, uma multidão de acontecimentos tem lugar. Cada palavra dos adultos à sua volta é absorvida, e transformada em sinapse – Montessori nos lembra que em cada criança o verbo se faz carne. Cada gesto adulto é visto, e começa a formar um caminho no cérebro da criança, que um dia vai tentar copiar o movimento. Cada som, odor, sombra e luz, é absorvida, organizada no imenso catálogo de sensações da criança, que enquanto cria a si mesma recria, dentro de si, o mundo todo.

Se cada pessoa é um mundo, esse mundo foi feito, grão a grão, pela criança muito pequena.

Justamente porque um trabalho tão enorme e tão importante acontece tão cedo, a educação deve começar desde o nascimento. Mas é importante que tenhamos clareza sobre qual educação queremos começar tão cedo.

Com certeza não se trata daquela educação baseada em apostilas, programas fixos e rígidos, e cronogramas escolares que ignoram por completo o mundo interior da criança em desenvolvimento. Não.

Nós falamos de uma educação que seja uma ajuda à vida.

Para Montessori, isso significa, basicamente, uma educação que seja uma removedora de obstáculos no caminho do desenvolvimento. O adulto, aqui, não decide qual o caminho que a criança vai tomar. Ele observa por onde ela vai, e vai na frente, tirando os obstáculos, abrindo os caminhos só os suficiente, e demonstrando como se caminha por ali – pelo caminho que a criança decidiu trilhar.

Essa criança, tão pequena, precisa de uma educação que lhe acolha. Que respeite tanto sua necessidade de silêncio, solidão e tranquilidade, quanto a urgência que ela tem de companhia, estímulos e palavras. Uma educação que conheça os caminhos do seu desenvolvimento, mas que não lhe diga que caminhos seguir, que espere e observe, como orientava Montessori.

O adulto é fundamental, sim. O adulto é (na melhor das hipóteses) um ajudante imprescindível. Montessori nos dizia uma frase que dificilmente é compreendida:

Siga a criança, mas como seu líder.

Maria Montessori

O paradoxo da frase nos deixa confusos. Não precisa deixar. Nós nunca decidimos o caminho da criança. Ela decide. Mas nós conhecemos os caminhos, e se houver um obstáculo por ali, nós podemos retirar. Se houver um perigo, podemos prevenir. Se houver uma nova habilidade para adquirir, podemos ajudar no processo. Nós seguimos o caminho que a criança conhece, que a Natureza aponta para ela, do seu interior. Mas seguimos caminhando na frente.

Vale ainda dizer: nós não vamos na frente para fazer pela criança. Isso seria condená-la à morte. Nós vamos na frente para preparar o ambiente, demonstrar como se faz, quando necessário, e tornar a ação da criança possível.

Montessori era muito clara: “Deve-se considerar sagrado o esforço secreto da infância”, porque é por meio deste esforço, e unicamente por ele, que a criança cria o ser humano.

Nosso dever para com a criança, de seguir liderando, ou de liderar seguindo, começa cedo. Começa junto com a vida. E se a educação é uma ajuda à vida, como propõe Montessori, esse é o melhor momento para começar. A humanidade, criada pela criança, agradece.


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  • a citação original diz que “a criança é o pai do homem”. A opção por trazer “mãe e pai” é uma escolha de tradução do Lar Montessori. Este texto se baseia no capítulo 6 do livro A Criança, O Embrião Espiritual
Desenvolvimento Infantil, Reflexões , , , ,

4 comentários

  1. Que texto lindo Gabriel! Gostaria de ter tido acesso a um texto desses a 3 anos atrás. Mas que bom que eu estou te lendo hoje!

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